segunda-feira, 12 de maio de 2008

1º ano/ TROVADORISMO

1º ano

TROVADORISMO

Designa-se por Trovadorismo o período que engloba a produçăo literária de Portugal durante seus primeiros séculos de existęncia (séc. XII ao XV). No âmbito da poesia, a tônica săo mesmo as Cantigas em suas modalidades; enquanto a prosa apresenta as Novelas de Cavalaria.

Contexto Histórico
Momento final da Idade Média na Península Ibérica, onde a cultura apresenta a religiosidade como elemento marcante.

A vida do homem medieval é totalmente norteada pelos valores religiosos e para a salvaçăo da alma. O maior temor humano era a idéia do inferno que torna o ser medieval submisso ŕ Igreja e seus representantes.

Săo comuns procissőes, romarias, construçăo de templos religiosos, missas etc. A arte reflete, entăo, esse sentimento religioso em que tudo gira em torno de Deus. Por isso, essa época é chamada de Teocęntrica.

As relaçőes sociais estăo baseadas também na submissăo aos senhores feudais. Estes eram os detentores da posse da terra, habitavam castelos e exerciam o poder absoluto sobre seus servos ou vassalos. Há bastante distanciamento entre as classes sociais, marcando bem a superioridade de uma sobre a outra.

O marco inicial do Trovadorismo data da primeira cantiga feita por Paio Soares Taveirós, provavelmente em 1198, entitulada Cantiga da Ribeirinha.

Características
A poesia desta época compőe-se basicamente de cantigas, geralmente com acompanhamento de instrumentos (alaúde, flauta, viola, gaita etc.). Quem escrevia e cantava essas poesias musicadas eram os jograis e os trovadores. Estes últimos deram origem ao nome deste estilo de época portuguęs.

Mais tarde, as cantigas foram compiladas em Cancioneiros. Os mais importantes Cancioneiros desta época săo o da Ajuda, o da Biblioteca Nacional e o da Vaticana.

As cantigas eram cantadas no idioma galego-portuguęs e dividem-se em dois tipos: líricas (de amor e de amigo) e satíricas (de escárnio e mal-dizer).

Do ponto de vista literário, as cantigas líricas apresentam maior potencial pois formam a base da poesia lírica portuguesa e até brasileira. Já as cantigas satíricas, geralmente, tratavam de personalidades da época, numa linguagem popular e muitas vezes obscena.

Cantigas de amor

Origem da Provença, regiăo da França, trazidas através dos eventos religiosos e contatos entre as cortes. Tratam, geralmente, de um relacionamento amoroso, em que o trovador canta seu amor a uma dama, normalmente de posiçăo social superior, inatingível. Refletindo a relaçăo social de servidăo, o trovador roga a dama que aceite sua dedicaçăo e submissăo.

Eu-lírico - masculino

Cantigas de amigo

Neste tipo de texto, quem fala é a mulher e năo o homem. O trovador compőe a cantiga, mas o ponto de vista é feminino, mostrando o outro lado do relacionamento amoroso - o sofrimento da mulher ŕ espera do namorado (chamado "amigo"), a dor do amor năo correspondido, as saudades, os ciúmes, as confissőes da mulher a suas amigas, etc. Os elementos da natureza estăo sempre presentes, além de pessoas do ambiente familiar, evidenciando o caráter popular da cantiga de amigo.

Eu-lírico - feminino

Cantigas satíricas

Aqui os trovadores preocupavam-se em denunciar os falsos valores morais vigentes, atingindo todas as classes sociais: senhores feudais, clérigos, povo e até eles próprios.

Cantigas de escárnio - crítica indireta e irônica

Cantigas de maldizer - crítica direta e mais grosseira

A prosa medieval retrata com mais detalhes o ambiente histórico-social desta época. A temática das novelas medievais está ligada ŕ vida dos cavaleiros medievais e também ŕ religiăo.

A Demanda do Santo Graal é a novela mais importante para a literatura portuguesa. Ela retrata as aventuras dos cavaleiros do Rei Artur em busca do cálice sagrado (Santo Graal). Este cálice conteria o sangue recolhido por José de Arimatéia, quando Cristo estava crucificado. Esta busca (demanda) é repleta de simbolismo religioso, e o valoroso cavaleiro Galaaz consegue o cálice.

Textos
Cantiga de Amor


Senhora minha, desde que vos vi,
lutei para ocultar esta paixăo
que me tomou inteiro o coraçăo;
mas năo o posso mais e decidi
que saibam todos o meu grande amor,
a tristeza que tenho, a imensa dor
que sofro desde o dia em que vos vi.

Quando souberem que por vós sofri
Tamanha pena, pesa-me, senhora,
que diga alguém, vendo-me triste agora,
que por vossa crueza padeci,
eu, que sempre vos quis mais que ninguém,
e nunca me quiseste fazer bem,
nem ao menos saber o que eu sofri.

E quando eu vir, senhora, que o pesar
que me causais me vai levar ŕ morte,
direi, chorando minha triste sorte:
"Senhor, porque me văo assim matar?"
E, vendo-me tăo triste e sem prazer,
todos, senhora, irăo compreender
que só de vós me vem este pesar.

Já que assim é, eu venho-vos rogar
que queirais pelo menos consentir
que passe a minha vida a vos servir,
e que possa dizer em meu cantar
que esta mulher, que em seu poder me tem,
sois vós, senhora minha, vós, meu bem;
graça maior năo ousarei rogar.

--Afonso Fernandes

Cantiga de Amigo


Enquanto Deus me der vida,
viverei triste e coitada,
porque se foi meu amigo,
e disso fui a culpada,
pois que me zanguei com ele
quando daqui se partia:
por Deus, se agira voltasse,
muito alegre eu ficaria.

E sei que andei muito mal
em zangar-me como fiz,
porque ele năo o merecia
e se foi muito infeliz,
pois que me zanguei com ele
quando daqui se partia:
por Deus, se agira voltasse,
muito alegre eu ficaria.

Certamente ele supőe
que comigo está perdido,
do contrário, voltaria,
porém, sente-se ofendido,
pois que me zanguei com ele
quando daqui se partia:
por Deus, se agira voltasse,
muito alegre eu ficaria.

--Juan Lopes

Cantiga de Escárnio


Conheceis uma donzela
por quem trovei e a que um dia
chamei de Dona Beringela?
nunca tamanha porfia
vi nem mais disparatada.
Agora que está casada
chamam-lhe Dona Maria.

Algo me traz enjoado,
assim o céu me defenda:
um que está a bom recato
(negra morte o surpreenda
e o Demônio cedo o tome!)
quis chamá-la pelo nome
e chamou-lhe Dona Ousenda.

Pois que se tem por formosa
quanto mais achar-se pode,
pela Virgem gloriosa!
um homem que cheira a bode
e cedo morra na forca
quando lhe cerrava a boca
chamou-lhe Dona Gondrode.

--Dom Afonso Sanches

Cantiga de Maldizer


Ai dona fea! Foste-vos queixar
Que vos nunca louv'en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!

Ai dona fea! Se Deus mi pardon!
E pois havedes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já en bom cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!

--Joăo Garcia de Guilhade