Emile Zola
Realismo e Naturalismo foram as duas escolas literárias de domínio narrativo no fim do século XIX e início do século XX. Sua contrapartida na poesia é chamada de Parnasianismo. Apesar de se parecerem, o Realismo e o Naturalismo têm diferenças — o Naturalismo é marcado principalmente pelo determinismo, a idéia de que a natureza define o destino dos personagens. O mais importante autor realista e maior escritor do Brasil foi Machado de Assis, que merece tratamento em separado.
Contexto sócio-político da época:
Teorias de nova interpretação da realidade - Positivismo, Socialismo Científico e Evolucionismo
no Brasil, campanha abolicionista a partir de 1850 que culmina com a Lei Áurea em 1888
fundação do Partido Republicano nacional após a Guerra do Paraguai
decadência da monarquia brasileira
fim da mão-de-obra escrava e sua substituição por trabalho assalariado
imigrantes europeus para a lavoura cafeeira
economia mais voltada para o mercado externo, sem colonialismo
Características
As características do realismo estão intimamente ligadas ao momento histórico e às novas formas de pensamento:
- objetivismo = negação do subjetivismo romântico, homem volta-se para fora, o não-eu
- universalismo substitui o personalismo anterior
- materialismo que leva à negação do sentimentalismo e da metafísica
- autores são antimonárquicos e defendem os ideais republicanos
- nacionalismo e volta ao passado histórico são deixados de lado para enfatizar o presente, o contemporâneo
- determinismo influenciando o homem e a obra de arte por 3 fatores: meio, momento e raça (hereditariedade)
O Romance realista propriamente dito, no Brasil, foi mais bem cultivado por Machado de Assis. Narrativa preocupada com análises psicológicas dos personagens e fazendo críticas à sociedade a partir do comportamento desses personagens.
Autores
- Raul Pompéia
De infância rica e reclusa, teve experiências em colégio interno, onde recebeu influências para escrever O Ateneu. Publicou seu primeiro livro ainda bem jovem, que muito aclamado pela crítica da época. Mais tarde estudou Direito, colaborando também com jornais e revistas.
Era abolicionista e republicano, leva vida agitada com polêmicas, inimizades e crises depressivas. Muito sensível, este professor, político, jornalista, escritor e polemista se suicidou no Natal de 1895, abandonado pelos amigos, caluniado e humilhado na imprensa. Foi um escritor que não se pode enquadrar em único estilo, tendo influências naturalistas, realistas, expressionistas e impressionistas.
Sua obra de maior importância é O Ateneu, que tem algum caráter autobiográfico e garantiu ao autor lugar entre os maiores romancistas brasileiros. Nas passagens a seguir, note a linguagem rebuscada que o autor usa.
"Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta."
--O Ateneu
"Falavam do incendiário. Imóvel! Contavam que não se achava a senhora. Imóvel! A própria senhora com quem ele contava para o jardim de crianças! Dor veneranda! Indiferença suprema dos sofrimentos excepcionais! Majestade inerte do cedro fulminado! Ele pertencia ao monopólio da mágoa. O Ateneu devastado! O seu trabalho perdido, a conquista inapreciável de seus esforços!... Em paz!... Não era um homem aquilo; era um de profundis."
--O Ateneu: Sobre O Ateneu: narrativa de confissão, espécie de regresso psicanalítico, onde o personagem principal redesenha pela memória os fantasmas da adolescência vivida num colégio interno. Apresenta problemas como a má direção, comportamentos equivocados de professores, violação da pureza, explosão libidinosa da adolescência etc.
- Aluísio de Azevedo
Tem por formação o desenho e a pintura, só mais tarde torna-se escritor profissional. Envolveu-se na política maranhense, fundou jornais e publicou o primeiro livro naturalista brasileiro, O Mulato, que foi muito mal recebido em sua província natal. Foi o primeiro escritor brasileiro a ter a literatura exclusivamente como profissão. Sua obra variou em qualidade, tendo feito alguns dramalhões românticos que considerava de má qualidade - que chamava “comerciais” - e obras naturalistas de relevância - junto com outras de nem tanta relevância ou qualidade. A divisão de sua obra não representa fases, pois os romances românticos eram alternados com os naturalistas. Mais tarde se desgostou da literatura e ingressou no serviço público. Foi membro da ABL.
Confere aos pequenos agrupamentos humanos vida própria. Seus protagonistas vão se degradando social e moralmente por força da opressão social ou, ainda, por força do determinismo das leis naturais (cientificismo). As tragédias são comuns em seus romances, mas estas vêm da fatalidade.
O que se segue são passagens de suas obras mais famosas e importantes, as naturalistas O Mulato, O Cortiço e Casa de Pensão.
"Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado."
--O Cortiço
"Sua pequena testa, curta e sem espinhas, margeada de cabelos crescendo, não denunciava o que naquela cabeça havia de voluptuoso e ruim. Seu todo acanhado, fraco e modesto, não deixava transparecer a brutalidade daquele temperamento cálido e desensofrido."
--Casa de Pensão
"Então, fechou novamente os olhos estremecendo, esticou o corpo - e uma palavra doce esvoaçou-lhe nos lábios entreabertos, como um fraco e lamentoso apelo de criança: - Mamãe!... E morreu."
- Adolfo Caminha
Talvez o mais audaz dos naturalistas brasileiros. Viaja pela Marinha e, no Ceará, ajuda a fundar o Centro Republicano além de participar da vida intelectual da cidade. É envolvido num escândalo de adultério e é expulso da Armada. Retira-se da vida social, mas continua a participar da vida literária. Em 1891 muda-se para o RJ, onde se dedica ao jornalismo e literatura, escrevendo algumas das obras-primas do Naturalismo como A Normalista e Bom-Crioulo.
A Normalista é a história chocante de um incesto em que a personagem principal é seduzida pelo padrinho. Já O Bom Crioulo trata das minorias sexuais condicionadas pelo ambiente. O personagem Amaro, O Bom Crioulo, se envolve amorosamente com um jovem grumete, que acaba sendo seduzido por uma portuguesa. A descoberta da traição leva Amaro a assassinar seu amante.
"Seguia-se o terceiro preso, um latagão de negro, muito alto e corpulento, figura colossal de cafre, desafiando, com um formidável sistema de músculos , a morbidez patológica de toda uma geração decadente e enervada, e cuja presença ali, naquela ocasião, despertava grande interesse e viva curiosidade: era o Amaro, gajeiro da proa, - o Bom-Crioulo na gíria de bordo."
"Aleixo passava nos braços de dois marinheiros, levado como um fardo, o corpo mole, a cabeça pendida para trás, roxo, os olhos imóveis, a boca entreaberta. O azul-escuro da camisa e a calça branca tinham grandes nódoas vermelhas. O pescoço estava envolvido num chumaço de panos. Os braços caíam-lhe, sem vida, inertes, bambos, numa frouxidão de membros mutilados."
- Domingos Olímpio
Escritor naturalista, foi um dos poucos e um dos últimos de sua escola. Formado em Direito, voltou ao Ceará para exercer o jornalismo como abolicionista e republicano. Forçado pela situação política (era político de oposição) mudou-se para o Pará. Já no Rio, publica sua principal obra, Luzia-Homem, e passa a escrever sob o pseudônimo de "Pojucan" na recém-fundada Os Anais, falecendo 3 anos depois. Em algumas passagens Luzia-Homem faz lembrar Vidas Secas de Graciliano Ramos.
Luzia-Homem tematiza a violência e o sadismo que florescem como literatura naturalista. Há nuances de Romantismo na morosidade da descrição das paisagens, onde a natureza, às vezes, é madrasta principalmente por causa da seca. Explora a duplicidade da personagem principal, ela é bonita, gentil e retirante da seca, mas também tem força descomunal.
"Sob os músculos poderosos de Luzia-Homem estava a mulher tímida e frágil, afogada no sofrimento que não transbordava em pranto, e só irradiava , em chispas fulvas, nos grandes olhos de luminosa treva."
"Raulino recuou, cortado de terror, ante o cadáver; e, num turbilhão de cólera, rugiu arrepiado, apertando os dentes, e, com uns gestos, que eram crispações medonhas de fera, esquadrinhou o terreno, buscando e rebuscando o criminoso."
- Sinopse
Marco inicial = publicação dos livros O Mulato (1º romance naturalista), de Aluísio Azevedo e Memórias Póstumas de Brás Cubas (1º romance realista), de Machado de Assis em 1881.
Marco final = publicação de Missal e Broquéis, ambos de Cruz e Sousa - obras inaugurais do Simbolismo em 1893.
O início do Simbolismo em 1893 não significa o término do Realismo e suas manifestações na prosa , com os romances realistas e naturalistas, e na poesia, com o Parnasianismo.